2003
São Paulo (SP)









O conjunto arquitetônico construído na cidade de São Paulo por ocasião das comemorações do seu quarto centenário, em 1954, é notável. O Parque do Ibirapuera, projetado por Oscar Niemeyer e Burle Marx para ser o centro daquelas Comemorações, transformou a várzea do Córrego do Sapateiro, já bastante poluído pelo matadouro da Vila Mariana, em um parque público que seria referência fundamental para cidade.
Fazia parte dos equipamentos previstos para o parque a construção do Ginásio do Ibirapuera, cujo projeto coube ao arquiteto Ícaro de Castro Mello e previa dois edifícios anexos para sede do Departamento de Esportes e Federações, mas apenas o ginásio foi executado. Desde então o Parque do Ibirapuera perdeu sua integridade original, parcelas significativas de suas áreas foram ocupadas de tal maneira que acabaram por segregar o Ginásio e o Parque.
Além disso, novos edifícios, mais ou menos integrados, se agregaram ao ginásio compondo um grande conjunto de instalações esportivas. Hoje a cidade de São Paulo é candidata a sediar os Jogos Olímpicos de 2012, para isso planeja grandes obras de infra-estrutura urbana que possam habilitá-la a isso. Coincidentemente, esse empenho atual lembra aquele de 1954 que fez com que se construísse o Ginásio do Ibirapuera. O Plano para 2012 coloca em relevo a necessidade e a importância da Modernização do Conjunto Esportivo Constâncio Vaz Guimarães.
É nesse contexto que localizamos esta proposta, cujo intuito é dotar o “conjunto” de uma unidade perdida ao longo do tempo e das obras que se acumularam ali sem um critério comum.
A ideia é ordenar funções e atividades através de ações bem definidas e concentradas naquilo que se julgou essencial.
INFRAESTRUTURA E PLANO DE ACESSOS
O “térreo” do conjunto foi “duplicado” através da construção de uma laje, cota 758.40, que faz um térreo elevado destinado ao público. Assim o nível “térreo” atual, cotas 752.00 e 754.00, foi destinado, internamente, à circulação exclusiva de atletas e serviços.
NÍVEL 752.00 e 754.00 – ATLETAS / SERVIÇOS
É esse o nível do “térreo” atual.
A “rua interna” atravessa todo o conjunto por sob a laje proposta exatamente por um dos eixos do grande ginásio. Ela provê os abastecimentos e circulaçõesde serviços, além de permitir o acesso à garagem. A garagem é a única obra proposta em subsolo, cota 749.00, com 582 vagas dispostas numa planta circular, em nível e completamente livre das fundações existentes.
À direita desta “rua interna”, abertas para a cidade, estão localizadas funções ligadas ao cotidiano da vida urbana: lojas, bares e restaurantes, também táxis e parada eventual de ônibus. Sua margem esquerda é definida pelo alinhamento das funções internas do conjunto esportivo, destinado aos atletas e serviços internos. Alguns trechos se exibem como vitrines públicas das atividades esportivas. Por esta cota de nível os atletas percorrem todos os edifícios que compõem o conjunto num circuito exclusivo e, por isso, livre porque pode prescindir das barreiras necessárias ao controle do ingresso de público.
O “térreo elevado” está disposto sobre a laje proposta e foi destinado à circulação de público. Nessa disposição elevada ele dispensa o uso de muros ou grades para o controle do ingresso de público. Apenas as três grandes rampas, além dos elevadores de uso controlado, exigem eventual fechamento. Nessa cota o público circula livremente como num terraço ou mirante para a cidade, os ginásios e estádios podem ser “visitados” sem que se passe por “catracas” pois os acessos às arquibancadas são devidamente concentrados na medida das suas necessárias dimensões.
GINÁSIO IBIRAPUERA
Este excelente edifício inaugural orientou a implantação das principais construções que se somaram a ele. Ordena também, em boa medida, este projeto. As intervenções que se propõe para o grande centro do conjunto esportivo têm o intuito de destacar suas reconhecidas qualidades e atualizá-lo conforme as novas normas e demandas.
A necessária ampliação da área da quadra ocupa, inevitavelmente, os primeiros lances de arquibancada. Para recuperar sua capacidade de público foram criados novos lances de arquibancadas no extremo superior que, por desconsiderar sua atual cobertura, pôde crescer até o limite do atual perímetro externo. Desse modo a capacidade para 11.000 pessoas foi ampliada para 14.000. O único “edifício” propriamente dito que se propôs aqui, foi implantado contornando o perímetro deste ginásio.
Este novo edifício anelar tem lajes com 15 m de largura e um diâmetro interno de 120 m. Assim, circunda o ginásio mas guarda um afastamento adequado. Constrói sua nova fachada, urbana, e osapoios, pilares lâminas com 5 m em concreto armado, para a sua nova cobertura.
As quatro lajes do novo edifício abrigam sucessivamente a administração do conjunto e as federações esportivas, a secretaria de esportes, o hotel e alojamento para atletas e, no terraço do seu último andar, o museu do esporte. Cada uma dessas lajes tem área de 6.350 m2.
A nova cobertura foi proposta em treliças metálicas, com 55 m de comprimento e 4 m de altura na base de apoio, dispostas radialmente de encontro ao anel de compressão com 10 m de diâmetro que faz a clarabóia no núcleo do ginásio.
ESTÁDIO DE ATLETISMO
A grande área livre necessária a este estádio folga todo o conjunto arquitetônico, o que contribui muito para a sua qualidade. Aqui as modificações são mínimas. O antigo velódromo, já há muito sem uso e interrompido com construções provisórias e precárias, foi finalmente demolido e substituído por seis linhas de arquibancadas assentadas sobre o terreno, o que aumenta a capacidade de público do estádio de 13.000 para 17.500 pessoas.
As salas de ginástica e federações que ocupavam os embasamentos da arquibancada coberta foram relocadas e com isso todo o térreo, liberado.
As pistas todas, atualizadas segundo as normas vigentes para competições de atletismo.
GINÁSIO POLIESPORTIVO
Essa construção foi desastrada na sua implantação, que invadiu a arquibancada do estádio, nas dimensões insuficientes da quadra e no arranjo das arquibancadas sem condições adequadas de visibilidade.
Contudo o esforço da presente proposta foi orientado no sentido de preservar, ao menos por ora, o corpo principal deste edifício. Atém-se a modificá-lo internamente nos seus níveis e disposição de arquibancadas e apoios.
Internamente a quadra ganhou medidas oficiais e novo nível de implantação, agora na cota 756,40 m, que coincide com os pátios externos. Nas laterais da quadra, sob as arquibancadas, foram dispostos os ringues de boxe e esgrima que se abrem em nível para os pátios. As novas arquibancadas acomodam em perfeitas condições de visibilidade um público de 3.300 pessoas.
O acesso de público é feito, preferencialmente, pelo “térreo elevado” a partir de uma pequena elevação desde a cota 758.40 m. Porém manteve-se a possibilidade de acesso, eventual, de público diretamente da rua a partir de uma “praça” própria deste ginásio na cota 759.20 m, que é um desfrute positivo da implantação particular deste ginásio, constrangida entre o estádio e a rua.
CONJUNTO DE PISCINAS
Esse conjunto foi atualizado de acordo com suas novas necessidades: piscina de salto ampliada; novos tanques para aquecimento, fisioterapia e crianças; vestiários ampliados e salas de apoio. Todo o conjunto foi coberto. Para acomodar tais transformações a praça de piscinas de competição precisou ser ampliada em 20 m no seu comprimento, totalizando 120 m de extensão.
A cobertura desta praça enfrenta toda essa extensão porque assim se coaduna bem com a estrutura tão presente das arquibancadas existentes. Para isso dois pórticos em concreto armado foram feitos nos extremos, junto à rua e junto ao estádio, eles fazem os painéis de vedação e os apoios para os dois pares de treliças espaciais metálicas com 6 m de altura que vencem o vão longitudinal para a cobertura metálica. Além disso, um dos pórticos abriga a escada e elevador de acesso às plataformas.
O acesso de público às arquibancadas se faz diretamente a partir do “térreo elevado”. Através de um vazio criado entre elas, entre o tanque de salto e a piscina olímpica, essa “cota pública”, elevada, atravessa a praça das piscinas de competição oferecendo uma perspectiva generosa do grande pavilhão aquático.
São essas, em linhas gerais, as ações que propomos para a Modernização do Conjunto Esportivo do Ibirapuera.