2004
São Paulo (SP)

“Se o mercado de trabalho relega parte da população à pobreza, o mercado imobiliário nega aos pobres a possibilidade de habitar no mesmo espaço que moram os que podem pagar. Surge uma demanda economicamente inviável, mas socialmente inegável . Desta contradição se origina a habitação social.”
Paul Singer

unidade habitacional

corte transversal

corte transversal

implantação



O Argumento
A perspectiva de ensaiar outras possibilidades e formas de habitação social é o ponto de partida deste trabalho.
Não se pode dissociar da reflexão sobre questão da habitação a reflexão sobre a questão da cidade, pois ambas são a mesma questão. O programa da habitação não se reduz às atividades cotidianas de caráter privado, mas prevê todas as demais funções de caráter coletivo como suas extensões. A cidade é também ponto de partida deste ensaio.
Como propor em dois lugares com características diversas, mas vinculados à área central, um único sistema (ou conceito) de configuração de espaços habitáveis que resegnifiquem o espaço urbano no qual se inserem? Não se trata de um protótipo a ser aplicado serial e repetidamente em diferentes espaços, mas uma estratégia construtiva nítida que seja capaz de viabilizar e organizar estruturas habitacionais urbanas sempre considerando o âmbito do lugar.
O Sistema
A obra tem – após a execução de infra-estrutura – basicamente duas ações fundamentais: a execução da Praça – estrutura de concreto que admite a pré-fabricação – e a montagem do Núcleo Servidor – a estrutura metálica aplicada na primeira estrutura.
Cada praça descansa sobre quatro apoios de modo independente. As vigas peitoris de 1.20m de altura, que estabelecem o travamento da estrutura, definem as aberturas das unidades. Complementado esta ação construtiva, as divisórias são executadas em argamassa armada, fechando os vãos definidos pelas vigas e em alvenaria de bloco de concreto para as divisões entre as unidades [cada unidade com outra compartilha uma única praça]. A execução da praça admite a pré-fabricação completa no caso de edifícios com poucos pavimento.
Entremeando as estruturas em concreto, os componentes hidráulicos – cozinha e banheiro – e escadas de circulação vertical, são elementos metálicos aplicados que podem ser usinados e montados e simplesmente aplicados na obra. O fechamento destes núcleos, tanto externamente como internamente, são realizados por vidros serigrafados brancos que permitem iluminar os espaços úmidos como o núcleo central da escada. Evitam-se desta forma as pequenas aberturas típicas, além de destacar o volume diferenciado. As características deste material permitem além da redução de custos e segurança (associada a um guarda corpo interno), a impossibilidade de divisar o interior do ambiente, ,mas permitir que a luz inunde o espaço iluminando os vazios como lanternas.
A Unidade
Uma única peça, um espaço versátil, com medidas 3.15 x 9m [meia praça], constituí os ambientes de permanência prolongada – estar e dormitório.
A dupla orientação permite a ventilação cruzada e visuais de interesse.O pano de fechamento único constituído por vidro temperado sem caixilho, evita mais uma vez a escala diminuta típica destes pormenores.
O piso da unidade é a própria laje nível zero sem a necessidade da execução do contrapiso para regularização, que proporciona a aplicação de acabamento diretamente sobre a laje.
Os dois componentes hidráulicos – cozinha e banheiro – sempre se relacionam com o espaço nas suas extremidades definindo seus usos. Pode-se admitir também o espaço único, livre e contínuo, enfatizando sua característica principal.
As tipologias são definidas a partir da variação da unidade básica pela inclusão de outro modulo compartilhado – no caso das unidades com dois dormitórios – e com a concentração dos componentes hidráulicos num único bloco – no caso da quitinete – com a redução da área útil da unidade em função da presença da varanda de circulação, prevista somente nesta tipologia.
O Edifício
O edifício é constituído pela associação das estruturas de concreto – as praças – e os núcleos metálicos intercalados. Conseqüentemente as prumadas de circulações verticais ocorrem serialmente servindo duas unidades por pavimento e oito unidades por prumada. O que sugere aparentemente um exagero, na verdade representa uma economia de área, além de representar um maior conforto ao morador e evitar que a extensa circulação horizontal devasse a unidade ou impeça a ventilação cruzada ou, ainda, a possibilidade de vistas em ambas faces da edificação.
No caso de edificações verticais altas a escada é mantida considerando que os elevadores param em andares alternados com varandas de circulação – pavimentos com quitinetes. Desta forma – em ambos casos – as escadas caracterizam-se não apenas como escadas de acesso, mas também de espaços de relacionamento de vizinhança.
A Implantação
As Unidades Habitacionais e o Centro de Capacitação estão organizados em três blocos orientado pelas ruas. O bloco junto a testada da rua Cônego abriga todas as unidades com dois dormitórios. Junto a rua Cruzeiro o bloco abriga tanto unidades de um dormitório como quitinetes. Ambos blocos com 4 pavimentos, oferecem o espaço do térreo para eventual estacionamento de veículos.
Junto a linha férrea implantou-se uma nova rua ligando a Rua dos Americanos e a rua Luigi Grecco e liberando definitivamente a praça Nicolau de Morais, dissociando-a fisicamente do conjunto. Esta rua situa-se na área non edificandi junto a linha do trem e, além de garantir um afastamento recomendado das unidades, gera uma terceira fachada ao conjunto. Nesta nova testada situa-se o bloco maior com quatro pavimentos, sendo o térreo ocupado necessariamente com Unidades Habitacionais. Este térreo elevado esta implantado sobre uma laje situada +1.375m sobre o nível da rua, assegurando a privacidade destas unidades mais próximas do chão, além de abrigar, em toda sua extensão, a escola e os espaços de sua futura ampliação.