2015
São José dos Campos (SP)




situação

implantação

ampliação 1

ampliação 2

ampliação 3


corte longitudinal geral

ampliação corte longitudinal

corte transversal

planta das unidades

planta da unidade

corte ampliado


TRANSFORMAR PARA SER TRANSFORMADO
Morar como estudante é uma situação de exceção, de caráter temporário e extraordinário na vida do indivíduo. A habitação estudantil não deve reproduzir a casa que habitualmente vivemos, mas constituir um espaço de transição inolvidável por suas características únicas e especiais. Não convém ser um espaço fechado e comum, simulacro da vida cotidiana.
Por associar tantas vivências e diferentes expectativas em relação ao futuro, devem ser espaços iluminados pela liberdade e por certa serenidade – expressa pela neutralidade dos materiais – que sublinhem a diversidade, o colorido da vida e a animação dos sentidos. São espaços nunca antes vividos e também transformadores, que, certamente, são parte do processo de formação de cada indivíduo.
ESTRUTURA GENÉRICA COMO SOLUÇÃO ABRANGENTE
Tendo em vista o objetivo do concurso de ofertar soluções arquitetônicas abrangentes, que sirvam como parâmetro para uma discussão mais ampla sobre a questão da habitação social, o projeto propõe uma estrutura genérica que atenda às premissas específicas do edital.
Constituída por solução construtiva baseada na industrialização e montagem, essa estrutura pode ser multiplicada e associada vertical e horizontalmente, estabelecendo, dessa forma, composições com dimensões urbanas.
ESTRUTURA AUSTERA E PROTAGONISTA
Como um experimento relacionado à universidade, a proposta de uma estrutura expressiva e extraordinária parece ser desejável, assim como a concepção de uma construção efetivamente referenciada na associação e montagem de componentes industrializados. Coaduna-se com a ideia da arquitetura como expressão do conhecimento e que deve noticiar o nível de avanço desse campo específico do saber.
A estrutura de concreto é a primeira ação construtiva. Duas bandejas longitudinais paralelas – como estruturas de transição – estabelecem as conexões com o solo e a distribuição das cargas. Sua eficiência reside no fato de serem necessários apenas 4 apoios por tramo estrutural básico, reduzindo, dessa forma, os serviços de fundações e flexibilizando as possibilidades futuras de implantação, de acordo com as variações topográficas de diferentes terrenos.
Sobre essas bandejas iniciais, é urdida uma estrutura em aço que constitui os planos verticais longitudinais – como duas vigas paralelas de 3 metros de largura por 31,50 metros de extensão, que constituem um núcleo servidor –, a partir dos quais as estruturas metálicas dos módulos habitacionais projetam-se em balanços de 4,5 metros. Planos horizontais internos solidarizam as construções paralelas, como uma ponte de conexão entre essas duas estruturas, e permitem a execução dos balanços, equilibrando as cargas e configurando um conjunto único, eficiente e expressivo. Essas conexões horizontais conformam os espaços coletivos de cada conjunto.
Finalmente, pode-se afirmar que sãos dois edifícios interligados, de apenas (e inusitados) três metros de largura, que amparam, de um lado, volumes em balanço e, internamente, volumes contidos de ligação, evidenciando uma solução estrutural expressiva.
EDIFÍCIO COMO ASSOCIAÇÃO DE ESTRUTURAS
Cada edifício é composto por pavimentos duplos com 8 conjuntos de módulos habitacionais, totalizando 32 unidades providas de um espaço coletivo. Ele pode ser constituído por um núcleo isolado ou por dois ou mais grupos associados.
Da mesma forma, pode ser composto por 4, 6 ou 8 pavimentos. Além disso, pode admitir pavimentos isolados (não duplos), que garantem a quantidade de unidades previstas pelo programa, nem sempre múltiplos inteiros de 4. Quando associadas, duas estruturas conformam vazios internos e promovem uma relação mais desejável entre os espaços coletivos, sugerindo que o conjunto com 63 metros de extensão venha a ser a solução mais interessante.
UNIDADE DE HABITAÇÃO COMO MÓDULO ESPACIAL
As unidades habitacionais foram pensadas como módulos espaciais únicos. Não há distinção entre as tipologias individual, dupla ou familiar. Trata-se de um espaço que pode assumir essa característica diversa, facilitando a execução e permitindo uma total flexibilidade, que é desejável. Cada módulo espacial habitacional corresponde a um habitante. Dessa forma, tornam-se simples e diretas as relações quantitativas, sublinhando o caráter genérico e amplo da proposta.
A unidade é dotada de um espaço em penumbra ou semipenumbra, onde se situa a cama, e um espaço de luz para o plano de trabalho. Uma estante de livros separa e organiza esses dois espaços. Os módulos são servidos por um plano de armário, cuja função é dividir e definir os dois ambientes ou dormitórios, que, contudo, podem ser associados. Todo módulo é um dormitório individual, mas todo módulo associado pode ser um dormitório duplo.
Cada três ou quatro módulos espaciais podem estar associados, conformando uma unidade familiar, idealizada para três ou quatro moradores. Nesse caso, um rearranjo dos armários define dois dormitórios, entremeados por um espaço de estudos de um ou dois módulos.
Apesar da flexibilidade total e da ampla possibilidade de arranjos que sugiram uma desejável diversidade tipológica, as unidades familiares, pela possibilidade de admitirem crianças, preferencialmente devem estar associadas entre si, a partir de espaços coletivos comuns.
UNIDADES E OS MÓDULOS SERVIDORES
Cada conjunto de 4 módulos espaciais associados – unidades habitacionais – está relacionado a um módulo de serviços situado dentro dos planos verticais da estrutura longitudinal. O ingresso no conjunto de unidades de habitação é realizado por esse bloco servidor – na estrutura principal -, garantindo seu isolamento dos demais, quando desejado.
Os serviços estão organizados em: sanitários (de uso múltiplo e simultâneo) associados à lavanderia, em situação mais perimetral, e, de outro lado, a copa (comer e socialização), mais próxima do acesso ao conjunto de módulos habitacionais.
ESPAÇOS COLETIVOS INTERNOS
Se as faces externas da estrutura genérica são constituídas pelos volumes dos módulos espaciais habitacionais em balanço, abertos à paisagem ou à cidade e promovendo a relação do indivíduo com o entorno, as relações comunitárias do conjunto se realizam no lado interno, nos planos coletivos, que fazem a ligação entre ambas as estruturas longitudinais paralelas.
Os planos coletivos são constituídos por dois níveis, com 75 metros quadrados e pé direito duplo que admitem – de fato – 32 usuários e os usos específicos pretendidos. No primeiro pavimento, que se relaciona diretamente com os blocos de circulação vertical, situam-se os espaços de estar. No mezanino, um volume fechado destinado a reuniões e estudos, mais isolado das atividades sociais e do burburinho, mas ligado pelas passarelas de conexão das unidades habitacionais desse pavimento.
Os sucessivos planos coletivos se relacionam por sua vez entre si, por meio dos vazios e pátios que conformam e se transformam em panópticos, permitindo que todos os conjuntos e seus respectivos usuários se entreolhem.
Assim, concentra-se no interior a música e a luz – a vida social – enquanto se desloca para o perímetro da estrutura o silêncio e a sombra – a vida individual -, subvertendo um arranjo mais tradicional da habitação.
ESPAÇOS DE CIRCULAÇÃO REDUZIDOS: AUSÊNCIA DE CIRCULACÃO HORIZONTAL
As prumadas de circulação vertical projetam-se a partir de planos estruturais de concreto, que fazem parte dos conjuntos de transição responsáveis por admitir o conjunto metálico. Em lados opostos situam-se escadas e elevadores, relacionados com os planos coletivos e servindo de acesso aos módulos habitacionais.
Na concepção de projeto proposta não é necessária circulação horizontal, reduzindo significativamente as áreas comuns – onerosas e de difícil manutenção – aos espaços de circulação do térreo. Esse montante de área construída pode ser remanejado para espaços de permanência prolongada, otimizando o uso do total de área construída proposto no edital deste concurso.
ESPAÇOS DE CONVIVÊNCIA COMO ANEXOS
Os espaços de conivência necessários não são considerados embasamentos das estruturas habitacionais, mas edifícios anexos que podem estar abaixo, no intervalo ou ao lado dessas estruturas, configurando os acessos e a relação imediata com o entorno.
São resolvidos a partir de uma estrutura independente (planos verticais e horizontais de concreto) e um espaço genérico, o que facilita a execução e pode amplificar e flexibilizar sua apropriação e utilização pelos usuários. A expressão arquitetônica do projeto reside justamente nesta austeridade e na transparência que evidencia seu caráter público e aberto à cidade e à comunidade.
TÉRREOS COMO ESPAÇO DE ARTICULAÇÃO E EXTENSÃO
O térreo das estruturas habitacionais é um espaço efetivamente livre, relacionado com os espaços de convivência e marcado pelo reduzido número de apoios e pelos blocos de circulação vertical. Essa abertura permite que se constitua um espaço de extensão da cidade, como a ampliação dos passeios perimétricos e com programas que promovam a convivência, estabelecendo uma necessária posição de contraponto ao discurso hegemônico (e infeliz) de enclausuramento ou encastelamento da vida privada.
ASPECTOS CONSTRUTIVOS E DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
A estrutura metálica receberá um invólucro constituído de painéis metálicos e painéis de concreto, que evidenciam o aspecto construtivo do conjunto por meio de montagem. Internamente, placas de gesso acartonado estabelecem as divisões dos ambientes. Os acabamentos podem ser múltiplos e eleitos conforme a disponibilidade econômica.
Todos os ambientes são providos de iluminação e ventilação natural, e o fechamento externo é reforçado por isolamento térmico, o que reduz gastos energéticos. Mesmo assim está prevista a utilização dos planos de cobertura para instalação de painéis coletores de sol.
IMPLANTAÇÃO
A amplidão da área destinada ao conjunto de São José dos Campos (aproximadamente 1,4 ha) permite uma implantação alongada com dois edifícios de apenas 4 pavimentos que aproximam as unidades ao assoalho natural, mantido como uma superfície de gramíneas naturais ou um relvado, circunvalada pela massa arbórea a ser implantada nas áreas de proteção. Os edifícios se acomodam na topografia suave, a partir de varandas de acesso em diferentes níveis articulados por rampas com 8% de inclinação, promovendo a ligação entre as ruas e demais setores do campus.
Considerando a extensão da área, os espaços de convivência estão dispostos em três blocos distintos, em situações particulares do conjunto. Os serviços se localizam no acesso junto à nova avenida projetada. Na praça entre os dois edifícios (e onde se conecta a ponte de ligação com o setor esportivo na vertente oposta do vale) situam-se os programas sociais. Finalmente, na porção mais estreita da área, junto à mangueira existente, está o programa esportivo e cultural, oferecido a todo conjunto do campus.