ESTAÇÃO ANTÁRTICA COMANDANTE FERRAZ

2013
Antártica

Arquitetura em condições extremas: o desafio do projeto

Como garantir as condições mínimas de habitabilidade e ofertar simultaneamente uma espacialidade provida de relações interior-exterior, tão cara a nossa arquitetura, em um ambiente com um clima tão adverso é o principal desafio deste projeto.

Não consideramos somente o design do objeto como singularidade – como as bases contemporâneas lastreadas por uma alta tecnologia – mas partimos da ideia de insinuar uma arquitetura mais domestica no sentido literal da palavra, referente a uma arquitetura brasileira. Foram, portanto, os conceitos de funcionalidade e das possibilidades construtivas que definiram ao final a expressão formal do conjunto proposto e não o caminho inverso de uma forma conformando espaços a priori. Logramos assim a constituição de espaços de vivencia articulados mais francamente com o meio externo, reforçando a ideia precípua da estação e sua relação com o território antártico. Sugerimos um conjunto arquitetônico integrado na paisagem, visualmente marcante e construtivamente austero.

Arquitetura territorial e espacial: o pátio conformado e a torre.

A ideia do projeto é de marcar com nitidez a ocupação do território, como quem delimita um lugar. A arquitetura define não apenas os ambientes internos, fechados e protegidos, mas os ambientes circundantes, externos e extremos.

Quatro blocos aéreos organizados em torno de um pátio envolvem o espaço, o ar e limitam a vastidão. Definem um vazio, em torno do qual as atividades se desenvolvem perimetricamente, permitindo aos usuários se situarem tanto internamente como externamente. O edifício suspenso do chão, além de impedir a acumulação de neve, reduz significativamente alterações no terreno original. Evita-se a circulação linear e finita e propõe a circulação circular e infinita, que articula todos os ambientes oferecendo percursos múltiplos, possibilidades de encontros e desencontros que animarão a vida cotidiana marcada pelo confinamento.

Para marcar este espaço central propomos uma praça de verão, constituída de uma plataforma metálica que paira sobre o solo original. Painéis removíveis permitem vislumbrar sua utilização para eventos sazonais ao ar livre, protegidos pelo próprio edifício.

Ao lado do conjunto, junto a barra de serviços,  uma torre mirante se eleva, como um farol, assinalando a presença da estação no horizonte distante, podendo abrigar ainda instalações energéticas, equipamentos de investigação e pesquisa.

Arquitetura do programa: blocos de atividades articulados

O programa esta disposto em quatro blocos aéreos e um bloco mais próximo ao chão. Os blocos isolados e estanques tem por objetivo primordial, aliado a outras medidas de segurança predial, evitar a propagação de fogo em caso de incêndio além de garantir o funcionamento sem indesejadas interferências das atividades.

As atividades operacionais situam-se na barra longitudinal de serviços que se relaciona mais diretamente com o chão, conformando uma frente longitudinal para a praia técnica. Delimitar esta faixa de trabalho permite deixar o interior livre da eventual contaminação e degradação pelo uso e trânsito de veículos

Esta barra ora sob a estrutura principal aérea, ora descolada desta estrutura, esta organizada em três segmentos, sendo o mais afastado – junto aos tanques de óleo existentes – isolado para garantir a segurança de todo o conjunto em caso de incêndio. Na barra de serviços estão situados os acessos principais com as respectivas salas de secagem.

Diretamente sobre a barra de serviços e relacionando diretamente com o mar, no bloco oriental, situam-se os ambientes sociais de uso coletivo. Os blocos norte e ocidental abrigam todos os dormitórios do conjunto. Finalmente no bloco sul localizam-se todos os laboratórios.

Todos os blocos estão interligados por passagens aéreas (de instalações e usuários) que possuem escadas de emergência para o exterior.

As unidades isoladas admitem o mesmo padrão de construção dos blocos principais e constituem assim em unidades remotas da estação principal.

Arquitetura da construção: austeridade e flexibilidade

Todos os blocos são conformados por uma estrutura comum constituída de treliças de aço apoiadas sobre pilares metálicos, envolvidas por uma pele isolante de painel SIP (structural insulating panels), composto de lâminas de madeira OSB e um isolante térmico adesivado ou injetado, envolvido em sua totalidade por chapa metálica. A superfície curva e continua suaviza as uniões dos revestimentos metálicos, permitindo que o edifício seja mais hermético e menos resistente aos ventos.

Por se tratar de uma estrutura única sugere uma flexibilidade desejada considerando que os feixes de instalações situam-se tanto na porção inferior ou superior da estrutura, liberando completamente o ambiente interno para admitir usos e instalações conforme as necessidades.

No bloco dos dormitórios, os módulos hidráulicos (com os banheiros) podem vir inteiramente montados do Brasil e conectados as instalações abreviando a complexidade e tempo de montagem.

Os blocos permitem planejar a construção em etapas sucessivas, caso seja necessário, considerando a flexibilidade de usos e ocupação dos espaços internos.

Imaginamos a estrutura inferior mais mineral, revestida com chapas de alumínio natural, a estrutura aérea em azul profundo, marcando a paisagem e ampliando a capacidade de absorção da radiação solar.

Ao final, a partir de operações básicas e diretas, sem exageros tecnológicos, que atendem as demandas e garantem as atividades da Estação Antártica Comandante Ferraz, propomos uma arquitetura austera que remete, mesmo na longínqua Antártica, aos espaços de vivencia de nosso país. Uma arquitetura brasileira que pousa sobre o continente austral e abriga o devir de nossa presença nesta porção única e preciosa do nosso planeta.

CONCURSO NACIONAL

ARQUITETURA

Alvaro Puntoni, João Sodré, André Nunes
Luciano Margotto, Gustavo Delonero (Republica Arquitetura)
Antonio Polidura, Pablo Talhouk (Polidura+Talhouk)
Ignacio Volante

COLABORADORES

Alexandre Mendes, Flora Fujii, Gil Mello, Melissa Nickelsen

CONSULTORES TÉCNICOS

afaconsult
Rui Furtado (Sistemas Construtivos e Estruturas)
Maria da Luz Santiago (Segurança e Proteção Contra Incêndio)
Paulo Gonçalves Silva (Instalações Hidrossanitárias)
Filipe Afonso (Geotécnica)
Marco Carvalho (Conforto Ambiental [Térmico] / Geração de Energia)
Octávio Inácio (Conforto Ambiental [Acústico])
Raul Serafim (Conforto Ambiental [Lumínico] / Geração de Energia)
Célia Tenente (Instalações Eletromecânicas)
Ana Rita Castro (Resíduos Sólidos)
Raul Serafim (Automação / Tecnologia da Informação / Telefonia)
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